Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Fast-Food Mental

A Mediocridade Reinante (ou como ser razoável é o novo extraordinário nas redes sociais).

por LucyHare, em 08.06.25
As redes sociais são o ecossistema digital onde a profundidade vai morrer e a reflexão crítica é um jantar de gala a que ninguém aparece.
Qual o segredo do sucesso nas redes sociais? Ser suficientemente medíocre para agradar a todos – ou, pelo menos, à maioria que não quer pensar muito.
 
Vivemos o Reinado do Desliga o Cérebro.

1000172777.jpg

As plataformas adoram conteúdo mastigado, engolido e cuspido em 15 segundos. Se precisares de mais do que isso para explicar uma ideia, esquece – o algoritmo já te deu 'swipe left' (passa à frente). O TikTok é o maior exemplo: um vídeo de um gato a cair do sofá tem mais hipóteses de viralizar do que uma análise sobre filosofia existencial. E porquê? Porque pensar cansa, e a maioria prefere rir (ou fingir que ri) do que refletir.
 
A Cultura do 'Olha, mas Não Vejas"
 
Entre trends descartáveis e polémicas fabricadas, o entretenimento imediato reina. Um podcast chamado "Calma, Gente Horrível" (nome perfeito, diga-se) já discutiu como a mediocridade se tornou a norma – porque, afinal, adaptar-se ao algoritmo é mais fácil do que tentar ser original. E quem tem paciência para originalidade quando se pode copiar o último desafio viral?
 
Algoritmos, os verdadeiros 'Influencers'
 
Os likes e shares mandam, e os algoritmos sabem disso. Conteúdo apelativo (leia-se: gritaria, cuscuvilhice ou indignação fabricada) ganha sempre. Um estudo até diz que 70% dos conflitos online nascem de mal-entendidos – mas quem é que lê mais do que o título antes de comentar? Ninguém. A nuance morreu, e o Twitter/X é o seu cemitério.
 
O Paradoxo da curadoria
 
Quem tem um mínimo de cultura ou interesse por temas complexos acaba num nicho – o que é ótimo, mas significa audiências menores. Enquanto isso, o 'feed' geral está entupido de conteúdo genérico feito para agradar ao Zé Ninguém. Até um estudo sobre um salão de beleza no Casa Feliz da SIC mostrou que, sem tempo para qualidade, o que vale é o 'boca a boca"– ou, no digital, o partilha sem pensar.
 
A exceção que confirma a regra.
 
Claro que há quem tente fazer algo com valor – mas esses têm de jogar o jogo dos algoritmos para sobreviver. YouTube Shorts e Instagram Reels até permitem conteúdo educativo… desde que seja em doses 'fast-food'. Ou seja: podes ensinar física quântica, mas só se for em 30 segundos e com 'memes' a piscar ao fundo.
 
Agora, para quem chegou aqui e ainda está a ler..
O sucesso da mediocridade é simples: 'é fácil, é rápido e não exige esforço'. Enquanto a maioria preferir 'scrollar' sem pensar, o superficial vai continuar a ganhar. Mas, sabem, pelo menos ainda há quem tente nadar contra a maré – mesmo que seja a 15 segundos de cada vez ou 10 parágrafos.
 
Bibliografia (para quem quiser fingir que leu algo sério)
 
  • MOURÃO, Matheus Monteiro.Vale a Pena Ser Medíocre? (2023) – Para quem acha que conformismo é uma estratégia de vida;
  • OBSERVADOR. Porque é que Certas Pessoas Permanecem na Mediocridade? (2024) – Spoiler: medo de falhar e preguiça;
  • Escola de Frankfurt.Indústria Cultura – Porque sim, já se sabia que isto ia acontecer,
  • Epicteto e Sêneca – Para quem quer fingir que é estoico enquanto discute 'memes' no Reddit.
Bom, e qualquer livro de Psicologia explica porque é que preferimos 'doomscrolling' a ler um livro.
 
Pronto, agora podem voltar ao vosso 'feed' de vídeos de gatos. Eu também vou.
 
 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 18:25



Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.



Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D